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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Tá correndo bicho: o chupa galinhas

Em meados dos anos noventa, a mídia relatava com certa regularidade histórias sobre uma estranha criatura, que atacava criações de cabras e vacas no Brasil e outros países da América Latina. Segundo os relatos, a misteriosa criatura assaltava os animais chupando todo seu sangue, e deixava apenas pequenos orifícios, similares a lesões feitas com um laser. Apesar do ataque, nenhum sinal de sangue era encontrado no animal ou fora dele, deixando claro que não se tratava de um predador conhecido pelo homem. Por isso, logo esse possível monstro recebeu o nome genérico de chupa-cabras e, ainda hoje, volta e meia a mídia divulga algum caso muito semelhante envolvendo terrível criatura.
        Era final da década de noventa, não me recordo o ano exato, quando algo sinistro aconteceu na nossa vizinhança, mais exatamente na casa quase em frente a nossa. Em uma manhã de terça-feira, a vizinha começou a contar desesperadamente para todos vizinhos, que por ventura aparecessem na rua, sobre um acontecimento macabro em seu quintal. Segundo ela, já muito tarde da noite anterior, ouviu um ruído de galinhas em completo desespero, vindo do galinheiro que mantinha atrás de sua casa. Ela achou a movimentação estranha, pois o galinheiro sempre dormia fechado com cadeado, a fim de impedir o roubo dos animais, e mesmo a entrada de possíveis predadores, como o simpático timbu (esclareço ao leitor, não pernambucano, que timbu trata-se de uma espécie de gambá, Didelphis albiventris). Logo, essa vizinha abriu a porta da cozinha e foi verificar que tamanha gritaria era aquela em seu galinheiro. Foi então que, nas palavras dela, essa vizinha viu, a menos de três metros, um bicho dificilmente desse mundo, meio parecido com um leão grande e branco. O bicho havia derrubado a porta do galinheiro, já havia atacado e matado algumas galinhas, mas, com a aproximação da mulher, ele saiu do galinheiro e ficou parado, em meio a um mato alto, no fundo do terreno, a lhe observar com olhos grandes e vermelhos. Ainda segundo seu relato, a vizinha jogou uma pedra no bicho, fazendo com que seus pelos ficassem ainda mais eriçados. O bicho, que não parecia intimidado, rosnou alto e forte para a mulher, que também não se intimidou com aquele felino albino do além, voltando a procurar uma pedra no chão, dessa vez ainda maior, e a jogá-la novamente contra o bicho que, dessa vez, correu para bem longe em grande desespero.
        Naquela manhã, ao relatar a história, a vizinha aproveitava para mostrar aos curiosos os corpos mortos de suas galinhas, com dois orifícios no pescoço ou peito, e sem qualquer vestígio de sangue. Tamanha foi a repercussão da história no bairro e municípios vizinhos, que duas equipes de reportagem foram até o local entrevistá-la, em busca de informações sobre o suposto chupa galinhas, um possível primo do já famoso chupa cabras das Antilhas. Depois desse episódio, ocorreram mais alguns relatos de supostos avistamentos do mesmo bicho, perambulando pelo bairro. E ainda houve outro vizinho, de uma casa da esquina, que disse ter ficado de tocaia por várias noites seguidas, tendo atirado e sangrado a criatura, que sumiu no mato e nunca mais foi vista.

Alguns meses se passaram até que, na mesma casa do acontecido, dessa vez a nora desta vizinha, disse ter acordado de madrugada ouvindo os cachorros latindo e acuando alguma coisa na rua. Ela olhou pela brechinha da janela e, tamanha foi sua surpresa, ao perceber que havia um animal parecido com um cachorro grande, porém repleto de grandes espinhos. Ele confrontava os cachorros, que pareciam temê-lo, embora continuassem a latir. Ela fechou a fresta da janela e ficou quieta até que os cachorros se acalmaram e, o bicho, provavelmente foi embora. Desde então, o relatos sobre essa possível criatura, que vagava à noite nas ruas do bairro, não foram mais ouvidos. 
--->> Veja AQUI depoimento da vizinha!

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Simpatia para ganhar no bicho


O jogo do bicho sempre foi algo rotineiro na vida dos pernambucanos. Nas décadas de 70, 80 e 90, ganhar no bicho era praticamente a única esperança de melhorar de vida para muitos indivíduos. Afinal, podia-se ter várias tentativas para ganhar no bicho, fosse na corrida da tarde, às 16h, ou à noite, às 19h (depois inventaram o horário do meio dia e, mais recentemente, soube que há inúmeros horários diferentes, o que para mim não tem a mesma magia); na cabeça ou no quinto, milhar, centena ou dezena, ou ainda o grupo. Sem contar aqueles 25 bichos coloridos, que podiam aparecer em sonho ou mesmo dentro de casa para dar o sinal, certeiro, do prêmio!!! Além disso, todo mundo conhecia alguém que já tivesse ganhado um troquinho no jogo do bicho, diferente das nacionalmente famosas Loto, Sena, Baú, entre outras premiações. Enfim, jogar no jogo do bicho era praticamente sagrado para muita gente. Era costume, lá no bairro, que as pessoas já tivessem seus números favoritos; e lá em casa o danado do cachorro era mesmo o suprassumo dos bichos. Quando dava cachorro na cabeça, e o pessoal não tinha jogado, era aquele alvoroço: “Ah, por que eu não joguei? Bem que eu sonhei com um danado de um cachorro”. Era cachorro pra lá, era cachorro pra cá... É claro que ninguém se lembrava do oposto, quando sonhava, jogava e dava outro bicho. Também havia um tal de “jogar por três dias seguidos”, sempre no horário da tarde, praticamente sagrado, e que valia para esses casos de visões em sonho. Enfim, um hábito tão arraigado desses só poderia dar margem para muitas crendices e simpatias. Minha mãe contava que era preciso ficar atenta aos sonhos, pois esses traziam mensagens importantes para se jogar no bicho, e eu confesso que, algumas vezes, eu pedia para que ela apostasse em algum bicho, baseado em sonho que eu havia tido na noite anterior. Mas coisa certeira mesmo para se jogar e ganhar no bicho era simpatia, mas simpatia das boas, daquelas que você veria, com seus próprios olhos, o bicho da cabeça do dia seguinte! Quando eu ouvi isso pela primeira vez, pensei como era possível as pessoas não ganharem repetidamente no bicho com algo tão certeiro! Esta simpatia, em especial, consistia em, à tardinha, preparar um bom cuscuz de milho. Aqui, esclareço para o leitor que não é da terra, que o cuscuz é um prato muito comum na região, feito rotineiramente no café da manhã ou jantar, à base de fubá de milho e geralmente servido com manteiga, ovo ou uma carne guisada cheia de molho, ou ainda charque ou carne de sol na graxa. Também é corriqueiro fazer este mesmo cuscuz doce e regado ao leite de coco, ou mais raramente um cuscuz de massa de mandioca levemente salgadinho. Esse tal cuscuz de milho devia ser colocado em um prato branco e virgem, levado até um ponto calmo do quintal e, às 18h em ponto, a pessoa deveria sentar-se ao longe e rezar a Salve-Rainha até o trecho “nos mostrai” por três vezes. Durante a reza, certamente o bicho, que daria na cabeça do dia seguinte, apareceria para comer o cuscuz. Eu achava essa simpatia fantástica, mas eu ficava mesmo imaginando fazê-la só para ver um elefante, um avestruz ou até um jacaré em meu quintal e, ainda por cima, comendo cuscuz. Que fabuloso seria! Apesar de acreditar nisso por um bom tempo de minha infância, eu nunca tentei fazer a tal simpatia, primeiro porque não havia prato virgem em casa, e comprar um prato novo, naquela época, não era tão fácil quanto hoje; e segundo porque minha mãe sempre dizia que não era bom brincar com essas coisas, que era preciso leva-las a sério, haja visto o causo da cabra. Eu perguntei que cabra era essa e, obviamente caro leitor, isso nos levará ao próximo causo.