O
pai do mangue é uma dessas criaturas mitológicas que poucos conhecem, porque,
convenhamos, nem todo mundo mora perto do mangue. Os antigos pescadores lá do
bairro onde cresci, relatavam que esse ser protegia os mangues, e quando
aparecia, costumava ser na forma de um enorme redemoinho no rio, que devorava
para dentro das águas as pessoas inexperientes que se aventuravam a desbravar os
mangues e seus rios. Alguns diziam que se tratava de uma criatura meio aquática
meio terrestre, um anfíbio por assim dizer, que ora vagava por entre os
manguezais lamacentos, esgueirando-se entre as árvores, ora nadando no rio
Pirapama ou seus afluentes. Até mais ou menos a década de 90, existia um
costume herdado dos mais antigos, em que alguns moradores do bairro atravessavam,
a nado, o rio Piraparama no seu trecho mais estreito, apoiando-se em um bambu sustentado
entre as pernas. Após atravessar um extenso mangue, uma área de restinga, cruzar
o rio a nado, e alcançar a outra margem do rio, também coberta de mangue, eles finalmente
alcançavam a praia do Paiva, naquela época deserta, e hoje reduto granfino da
Riviera pernambucana. Dessa forma, afloravam no bairro os causos de avistamento
do místico pai do mangue. Já outros moradores, especialmente os pescadores,
relatam que o pai do mangue aparecia um senhor negro, com chapéu de palha e um
samburá nas costas, que, tendo um caranguejo em uma das mãos, vistoriava as
tocas do crustáceo sempre dizendo: “Aqui tem caranguejo. Aqui não tem”, e
colocava um caranguejo em cada toca desocupada. Assim como o pai do mangue,
havia também seu primo, mais bem conhecido, o pai da mata, que supostamente
protegia as florestas da ação perversa e destruidora dos homens que não
respeitassem aquele habitat silvestre. Creio
que uma espécie de pai da mata era o Tôsseco. Essa criatura, meio homem meio
árvore, gigante e seca, costumava aparecer às pessoas que se aventuravam fundo
nas matas nos arredores de Recife. Quando ela fazia sua aparição, geralmente
era acompanhada de sustos, em que a criatura murmurava com uma voz grotesca
“Tôsseco, tôsseco, tôsseco”, enquanto caminhava lentamente com suas pernas
compridas e finas de madeira.
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domingo, 1 de maio de 2016
O pai do mangue e outras entidades protetoras
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domingo, 24 de abril de 2016
Comadre Florzinha
A
Comadre Florzinha é uma daquelas assombrações tipicamente pernambucanas, uma
entidade protetora das matas, das plantas e dos animais silvestres, que habita(va)
desde grandes florestas até capoeiras perdidas no meio de plantações de cana de
açúcar, ou mesmo um bonito quintal cheio de florezinhas coloridas e muita folhagem.
Tia Ana conta que sua mãe, Dona Júlia,
lá no Alto da Foice, mesmo lugar onde o fabuloso Tutu realizava suas peripécias
nos anos 40, costumava ver a Comadre Florzinha no aceiro de uma mata, que havia
atrás de sua casa. Os moradores locais frequentemente deixavam mel em uma
tigela para a Comadre, uma espécie de agrado para ela não se irritar e sair
açoitando os cachorros ou mesmo as pessoas com seus longos cabelos em dolorosas
cipoadas. Essa entidade também aparecia comumente nos engenhos e, lá em Ponte
dos Carvalhos, também fazia suas aparições. Duas vizinhas nossas viram, por inúmeras vezes, a Comadre Florzinha
nos quintais das casas da vizinhança, fosse passeando entre os jardins
floridos, maltratando algum cachorro moribundo com seus longos e brilhantes
cabelos louros, ou mesmo brincando com algumas crianças que achavam que ela era
uma menina comum desse mundo dos encarnados. Eu nunca vi a tal da comadre, mas
lembro-me que, quando criança, não eram raras às vezes em que uma amiga minha
desmaiava por ter visto a tal da menina lá em sua casa, fosse no quintal ou no
jardim. Em meio a uma brincadeira, quando ela esbugalhava os olhos e ficava amarela que nem barro, era certeza que ela tinha avistado a Comadre.
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