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sábado, 9 de abril de 2016

O Papa Figo de Dois Irmãos

Tia Ana conta que seus vizinhos, no Alto da Foice, relatavam um curioso caso sobre uma família abastada, que morava em um casarão no bairro de Dois Irmãos em Recife. Segundo os relatos, os donos da casa frequentemente contratavam uma ama de leite, cuja função seria amamentar um suposto bebê da família. Porém, ao chegar a casa, logo a ama percebia que sua tarefa se tratava de algo um tanto quanto mórbido, pois ela deveria amamentar não uma criança, mas um adulto enfermo, cuja enfermidade supostamente seria atenuada com uma dieta, digamos, bastante estranha. Uma das amas de leite contratada para o serviço, terminou por concordar em amamentar o homem, visto que seria muito bem remunerada. Mas, tamanha foi sua surpresa ao perceber que o homem sugava tão fortemente seus seios, exaurindo todo seu leite e chegando até mesmo a sugar seu próprio sangue. A mulher, apavorada, saiu correndo do casarão, pulando o muro e sem receber nada em troca pelo serviço. Nesse ponto, caro leitor, você deve estar se perguntando onde o Papa Figo entra nessa história bizarra. A questão é que o homem enfermo era portador de lepra ou hanseníase, o que naquela época levava a graves deformações por falta de tratamento, incluindo as orelhas caídas e aparentemente crescidas, diagnóstico certeiro, para a maioria das pessoas, de que o indivíduo tratava-se mesmo de um Papa Figo – um comedor de fígado humano, especialmente de meninos, muito conhecido em Recife e arredores. Unindo a aparência do moribundo ao hábito grotesco de alimentar-se de leite materno, esse boato terminou correndo pelos bairros mais humildes, onde provavelmente moravam outras possíveis amas de leite, que passaram pelo mesmo sinistro pesadelo.     

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O arruaceiro que ficava invisível

Costumava contar tia Ana que, durante sua infância por volta dos anos 40, no Alto da Foice do bairro Casa Amarela em Recife, um rapaz apelidado de Tutu era conhecido por suas brigas e confusões. O antigo Alto da Foice, hoje em dia chamado de Alto Nossa Senhora de Fátima, era assim chamado por causa das constantes brigas de foice entre os moradores. Era costume comum, naquela época, que alguns moradores fizessem grandes festas em seus quintais, onde havia muita dança, comida e bebida à vontade. Tutu, por já ser conhecido por suas intromissões nas festas alheias, criando desavenças e, por muitas vezes, encerrando a comemoração, nunca era convidado. No entanto, Tutu  sempre aparecia de penetra nas festas, e já macaqueados com a situação, o pessoal já dizia amedrontado:  “Lá vem Tutu!”. O danado do Tutu entrava nas festas, fazia bagunça, brigava com todo mundo, e só saia da festa quando a polícia era chamada. O tal do Tutu, mesmo seguido pela polícia, se envultava na frente dos guardas, que ficavam perdidos sem saber onde o danado do rapaz havia se metido. O povo falava que Tutu se envultava porque, na verdade, havia feito um feitiço poderoso, capaz de deixá-lo invisível ou trasformar-se em um objeto ou um animal. O feitiço consistia em encontrar um gato preto sem sinal de cor alguma, colocá-lo vivo em um caldeirão no fogão e esperar pelo seu cozimento até sua completa diluição. Feito isso, o passo seguinte consistia em separar todos os ossos do gato e, na frente de um espelho virgem, levar à boca ossinho por ossinho, fazendo uma determinada oração. Quando, o ossinho certo fosse posto na boca, o indivíduo não mais veria sua imagem no espelho. Assim, Tutu continuava a fazer suas peripécias pelo Alto da Foice, ora fazendo prezepadas com os vizinhos, ora se envultando e fugindo da polícia.