No início da década de 80, o bairro
de Ponte dos Carvalhos, principalmente no trecho onde morávamos, era bastante ermo
e, ao sair tarde da noite, raramente se via uma viva alma nas ruas. Porém, em
uma certa noite, quando minha tia Ana voltava para casa após ter saído em busca
de um remédio para minha mãe, ela percebeu que não caminhava sozinha pelas ruas.
Ao virar a esquina da avenida principal com a rua da antiga “sinuca”, um bar
muito conhecido naquela região do velho Engelho Ilha, ela instintivamente olhou
para trás e percebeu que havia uma mulher com um longo e esvoaçante vestido vermelho
e que andava a passos largos em sua direção, praticamente cambaleaando ou
balançando no ar. Nesse instante, minha tia se arrepiou da cabeça aos pés e
percebeu que aquilo não se tratava de uma pessoa em carne e osso, mas sim de
uma assombração que, sabe-se lá o porquê, cismou de correr atrás dela,
justamente quando ela dobrava a esquina daquela encruzilhada. Sem raciocinar
muito para entender o que era aquela assombração, e por que estaria atrás dela,
tia Ana começou a fugir desesperada daquela mulher assombrada com um vestido
vermelho e cabelos esvoaçantes. Quanto mais ela corria, mais perto a mulher
chegava. Como naquela época todas as ruas do antigo Engenho Ilha eram de terra
batida, e para ser sincera, até pouco tempo ainda eram, tia Ana se danou a
pisar nas poças de lama e a perder os chinelos, chegando finalmente em casa
esbaforida e aterrorizada. A assombração sumiu quando finalmente ela dobrou a
esquina da rua onde morava. Ao chegar em casa, que ainda era iluminada por
lampião, ela contou o ocorrido a minha mãe, que sempre diz que nunca viu minha
tia tão descabelada e enlameada semelhante àquele dia. Parece mesmo que essa
assombração costumava habitar aquele trecho do bairro, pois alguns moradores
relatam que, até há alguns anos atrás, essa tal mulher de vermelho ainda
aparecia nas ruas, sempre depois da meia noite, correndo atrás de pobres almas
vivas desavisadas.
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