domingo, 1 de maio de 2016

O pai do mangue e outras entidades protetoras

O pai do mangue é uma dessas criaturas mitológicas que poucos conhecem, porque, convenhamos, nem todo mundo mora perto do mangue. Os antigos pescadores lá do bairro onde cresci, relatavam que esse ser protegia os mangues, e quando aparecia, costumava ser na forma de um enorme redemoinho no rio, que devorava para dentro das águas as pessoas inexperientes que se aventuravam a desbravar os mangues e seus rios. Alguns diziam que se tratava de uma criatura meio aquática meio terrestre, um anfíbio por assim dizer, que ora vagava por entre os manguezais lamacentos, esgueirando-se entre as árvores, ora nadando no rio Pirapama ou seus afluentes. Até mais ou menos a década de 90, existia um costume herdado dos mais antigos, em que alguns moradores do bairro atravessavam, a nado, o rio Piraparama no seu trecho mais estreito, apoiando-se em um bambu sustentado entre as pernas. Após atravessar um extenso mangue, uma área de restinga, cruzar o rio a nado, e alcançar a outra margem do rio, também coberta de mangue, eles finalmente alcançavam a praia do Paiva, naquela época deserta, e hoje reduto granfino da Riviera pernambucana. Dessa forma, afloravam no bairro os causos de avistamento do místico pai do mangue. Já outros moradores, especialmente os pescadores, relatam que o pai do mangue aparecia um senhor negro, com chapéu de palha e um samburá nas costas, que, tendo um caranguejo em uma das mãos, vistoriava as tocas do crustáceo sempre dizendo: “Aqui tem caranguejo. Aqui não tem”, e colocava um caranguejo em cada toca desocupada. Assim como o pai do mangue, havia também seu primo, mais bem conhecido, o pai da mata, que supostamente protegia as florestas da ação perversa e destruidora dos homens que não respeitassem aquele habitat silvestre. Creio que uma espécie de pai da mata era o Tôsseco. Essa criatura, meio homem meio árvore, gigante e seca, costumava aparecer às pessoas que se aventuravam fundo nas matas nos arredores de Recife. Quando ela fazia sua aparição, geralmente era acompanhada de sustos, em que a criatura murmurava com uma voz grotesca “Tôsseco, tôsseco, tôsseco”, enquanto caminhava lentamente com suas pernas compridas e finas de madeira. 
Aparentemente esses “pais de ecossistemas” estão extintos na atualidade, pois constantemente recebemos notícias de que trechos, muitas vezes do tamanho de países da Europa, desaparecem anualmente devido ao desmatamento das florestas no Brasil.

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