Quando
criança, na ocasião do casamento da filha mais velha de uma comadre de minha
mãe (a mesma tia Tereza, do causo sobre “tá correndo bicho”), fomos eu
e minha mãe ao Engenho Cajabussu. Naquela época, nos anos 90, o engenho não tinha
luz elétrica e o transporte era feito por um ônibus, muito velho (Pense em um
ônibus velho! Era muito pior!), que apenas saia do Cabo de Santo Agostinho aos
sábados. Fora isso, ou ia-se com veículo particular, coisa que não tínhamos, ou
de carona nos treminhões de cana, o que fizemos na volta para casa. O local era
tão afastado, que quando os moradores avistavam um avião, bem alto no céu,
isso, por si só, já era um grande evento. Naquela época, eu fiquei entusiasmada
em visitar um lugar assim, onde se podia ver as luzes das estrelas claramente,
sem interferência de qualquer tipo de iluminação da cidade, onde as pessoas não
tinham tv, e onde as histórias, contadas em volta da luz do candeeiro, eram o
entretenimento maior. Não vou ser hipócrita em dizer que gostaria de morar em
um lugar assim, mas confesso que fiquei, na época, encantada com aquela
experiência, sendo ela passageira. Quilômetros adentrando nos canaviais, além
do centro do Cabo, e já bem próximo ao município de Jaboatão dos Guararapes,
era lá que ficava aquela simpática vila, onde, na época, tia Tereza morava. Foram
algumas as histórias que ouvi enquanto estava por lá, embora a maioria das pessoas
estivesse muitíssimo ocupada com os preparativos do casamento. Porém, um causo,
em especial, ficou bem marcado em minha mente, talvez porque eu tenha visto pessoalmente
a protagonista de tão fantástica trama. Na manhã do casamento, eu caminhava com
a filha mais nova de tia Tereza pela vila, quando uma menina de seus doze anos
passou pela gente e nos cumprimentou. Foi então que a moça me contou, tentando
ser muito discreta, que aquela menina se tratava da filha de uma vaca! Preste
atenção, caro leitor, pois ela não xingava a garota, como comumente fazemos ao
dizer que uma pessoa “É uma filha da
vaca, mesmo!”. Ela me explicou que o pai da menina, quando mais jovem,
tinha lá suas manias pervertidas, e buscava se aliviar em uma vaca, que era
criada pela família em um pasto atrás da casa. Em um belo dia, a família notou
que a vaca estava prenha, embora não houvesse qualquer touro pelo pasto nas
últimas semanas. Eles esperaram pelo nascimento de um bezerro, porém tamanha
foi a surpresa das pessoas ao perceber que, em vez de um animal, havia nascido uma
criança humana. A menininha era, aparentemente, saudável e em nada lembrava a
vaca de sua mãe, exceto por um grande sinal de pelo nas costas, igualzinho a
uma malha da própria vaca. Os avós, tendo muita pena, resolveram criar aquela
menina, que, no fundo, já desconfiavam que fosse fruto das sem-vergonhices do
seu filho com a coitada da vaca. Naquela ocasião, em que a moça me contou
tamanha fábula, ela ainda quis provar que não estava mentindo, e fez questão de
chamar a menina, só para que ela se aproximasse e eu pudesse perceber a grande
malha de pelo negro em suas costas. Insisto que a moça fez tudo isso com muita
discrição, pois apesar das pessoas do povoado terem conhecimento sobre o causo,
a menina nunca foi informada sobre o paradeiro de sua verdadeira mãe, nem que
ela poderia estar ali, tão perto dela, bem atrás de sua casa, tranquila a comer
seu capim.
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