Minha mãe passou alguns anos
interna em um colégio de freiras em Caruaru, o Lar Santa Maria Gorete, até
aproximadamente seus 27 anos, o que coincide com o final da década de 70. O
colégio possuia dois grandes dormitórios de meninas, em diferentes andares, e,
como de costume, toda santa noite a madre superiora visitava os dormitórios
para averiguar se não faltava alguma menina em sua cama. Isso era tão rotineiro
que elas já esperavam pela passagem da madre, e aquelas que planejavam saídas
furtivas à noite programavam-se muito bem para isso. Uma certa noite, enquanto
todas as meninas já haviam se recolhido, minha mãe disse que a madre entrou no
dormitório onde ela ficava, e se dirigiu lentamente em direção a sua cama,
observando e averiguando cautelosamente o ambiente. Seus passos eram lentos e
bastante pesados, e era até possível ouvir sua respiração cada vez mais
próxima. Foi então que minha mãe, ainda acordada, se virou em direção à madre
para dar um boa noite ou outro cumprimento. Como a freira já estava suficientemente
perto de sua cama, ao virar-se ela ficou em frente àquele hábito negro, começando
a seguí-lo com seus olhos até alcançar o rosto da religiosa. Ela conta que tudo
estava lá, a roupa, os pés, os braços, mas, para seu completo espanto, não
havia cabeça alguma naquela freira. Ao perceber que não se tratava de uma madre
de carne e osso, ela se se cobriu com o lençol e ficou quietinha por toda a
noite, como se aquele gesto a protegesse daquela assombração católica. Já ouvi
dizer que mulheres que se reacionam com padres viram mulas sem cabeça, mas qual
seria a causa para uma freira sem cabeça? No dia seguinte, minha mãe se manteve
calada sobre o ocorrido, talvez pelo receio em ser motivo de chacota entre as
outras meninas. No entanto, enquanto ela tomando seu café da manhã no
refeitório, juntamente com todas as outras internas e as freiras, ouviu, em um
canto esquerdo da mesa, um alvoroço de algumas meninas a dizer que nem haviam
dormido na noite anterior. Elas alegavam que viram uma cabeça de freira flutuante,
justamente na janela do dormitório do primeiro andar. Minha mãe, não mais
reçabeada, resolveu compartilhar também seu avistamento, e todos ficaram assombrados
com o fato de uma freira fantasma ter aparecido em dois dormitórios ao mesmo
tempo, sendo a cabeça no primeiro e o corpo no segundo andar. Seja lá o que
foi, certamente essa visagem desenvolveu uma estratégia de vigília bastante eficiente.
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