Minha mãe foi criada por sua tia
madrinha e pela avó paterna na cidade de Escada, mas durante algumas férias,
quando ainda tinha por volta de quatro a cinco anos, costumava visitar seus
pais em um sítio no Engenho Massauassu. A água era de poço, a iluminação de
candeeiro, e a casa dos meus avós era bastante afastada de outras casas, em
meio à cana de açúcar e algumas matinhas que existiam na região. Meu avô
costumava usar a desculpa de que precisava comprar querosene em um barracão da
usina, léguas longe dali, e todo santo dia ele saia cedo e voltava já tarde,
com aqueles dois dedinhos de querosene para acender o candeeiro. Mas na
verdade, ele voltava mesmo era bastante cheio de pinga. Enquanto isso, minha
mãe costumava ficar com minha avó durante todo o dia, a ajudá-la com os
afazeres domésticos, como ir buscar água no poço, procurar por lenha perto do
aceiro da mata, cuidar do jardim repleto de cravos e, às vezes, brincar com
bichinhos feitos de batata e palito. À tardinha, minha avó costumava dar banho
em minha mãe usando uma bacia e um canequinho, sempre à luz do candeeiro ou mesmo
de uma vela. Minha mãe conta que durante esses banhos ela achava extremamente
divertido observar sua réstia na parede da casa, e que corria de um lado para
outro em uma banqueta de madeira só para ver sua sombra enorme projetada na
parede. Minha avó, sempre advertia: “Não brinque com a réstia, menina! Você vai
se assombrar à noite”. Minha mãe não dava à mínima, e continuava brincando, por
várias ocasiões em que tinha oportunidade. Até que uma noite, sem nem mais lembrar
do que sua mãe costumava lhe dizer sobre essa possível assombração, minha mãe já
estava deitada em sua rede, no quarto onde dormia, quando percebeu que na
parede do quarto, bem a sua frente, havia uma velha. Isso mesmo, uma velha, que
parecia de carne e osso, mas que ela não a conhecia. Aquela velha era muito magra,
corcunda, de nariz muito pontudo e encurvado, vestida de preto, e a observava
atentamente. Minha mãe jura que não era réstia de alguma planta na janela, nem mesmo
que ela estava dormindo. Ela fechava os olhos e ao abrir, a velha continuava
lá, materializada, olhando-a fixamente. Minha mãe começou a chorar desesperada,
chamando por sua mãe, enquanto aquela velha, que mais aparentava ser uma bruxa
comedora de criancinhas, sumiu tal qual fumaça no ar. Naquela noite, minha avó correu
ao quarto e ficou com minha mãe até ela adormecer. Depois disso, a velha
tenebrosa não voltou a aparecer, e minha mãe parou com suas peraltices,
deixando sua própria réstia em paz.
Parabéns. Interessante e bem escrita essa história, que demonstra a riqueza folclórica de nosso imenso Brasil.
ResponderExcluirLegal esse blog. Gostei das ilustrações.
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